Sei que se você está aqui é porque ama pets. Mas leia até o fim e verá que muitas coisas que você faz com muito amor são desaconselháveis.
Tobias está deprimido; já não quer mais sair de casa, tem se alimentado muito mal. O motivo de tanta tristeza não é o término de um namoro ou a jornada estressante da 12 a 14 horas no trabalho; é porque estas 2 situações aconteceram com o seu dono, o Luís. Depois que o Luís terminou o seu namoro de 5 anos com Sara, dobrou as horas de trabalho para esquecer a dor. Tobias estava acostumado a sair todos os dias para passear, adorava brincar pelo parque enquanto Luís tomava sorvete com Sara. E a risada do Luís era incrível.
De repente, o Luís começou a chegar tarde em casa. Nada de sorriso, nada de carinho, nada de passeios. O Tobias ainda tentava chamar atenção, mas Luís o repreendia com palavras agressivas. A Sara nunca mais apareceu e Tobias sentia muito a falta dela.
Todos os personagens são fictícios, mas histórias de tutores que se distanciam dos seus pets sem perceber são muito comuns.
Cães são sencientes: são capazes de sentir, alegria, tristeza, solidão. Tem dia que eles acordam bem humorados, mas também tem dia que eles não acordam bem. Cada um tem seu jeito, suas manias, assim como nós humanos.
Mas diferente dos nosso amigos peludos nós somos seres racionais. Temos a capacidade de raciocinar e tomar decisões lógicas. Por isso temos a responsabilidade de zelar por eles.
Recentemente me deparei com o livro El lenguaje de los perros: Las señales de calma da adestradora Turid Rugaas. Neste livro ela aponta 5 atitudes que acreditamos que são positivas e que deixam nossos cães felizes, mas estamos completamente enganados.
Vamos ver?
1 – SEGURAR UM PEDAÇO DE PAU PARA ELE PULAR (em uma altura impossível de alcançar)
Ela cita o experimento de Pavlov, estudo para comprovar que cães tem reflexo condicionado. Nos primeiros dias, o cientista dava comida para cão logo após tocar uma campainha. Depois de um tempo, ele continuou a tocar a campainha, mas não dava a comida. O resultado é que o cão ficava salivando ao lado da campainha.
Imaginei esta cena e a raiva tomou meu corpo inteiro.
E Turid diz que a ansiedade que geramos no nosso parceiro segurando um pedaço de pau em uma altura que ele não consegue pegar é a mesma do experimento de Pavlov.
E a agressão não é só mental, mas também física. O movimento de pular muito alto, concentra todo o peso nas patas traseiras. Isso feito muitas vezes numa frequência acima do normal pode causar sérias lesões.
Portanto brincar com o pedaço de pau em uma altura que o cão possa alcançar é saudável. Do contrário, gerará sensação de impotência e frustração nele.
2 – ACARICIÁ-LO QUANDO TEM MEDO (e não te procura)
Os cães detestam sons muito altos como fogos de artifício, tempestades e trovões porque eles têm uma capacidade auditiva 10 vezes maior que a nossa (com isso escutam sons de frequência abaixo da nossa percepção). E o que mais alivia ele nestes momentos é ficar sozinho. Abraça-lo e acaricia-lo só reforça o temor.
O melhor é aparentar normalidade. Se ele pedir carinho e aconchego é claro que pode dar. O importante é demonstrar que ele não precisa ficar assim, que ele é capaz de resolver isso sozinho.
3 – LANÇAR A BOLA PARA ELE BUSCAR (muitas vezes)
O ato de lançar uma bola pode gerar uma obsessão. Se ele ficar extremamente ansioso, não vai parar de latir para você jogar de novo, com isso vai sem ar e com taquicardia, que aumenta o nível de cortisol (hormônio do estresse) e, consequentemente, ele viverá menos.
A brincadeira pode ser sadia, desde que seja feita em um tempo determinado pelo proprietário e que fique claro para o cão que o jogo terminou.
4 – PREMIÁ-LO (demais)
Petiscos e biscoitos (SAUDÁVEIS) são uma excelente ferramenta para ensinar o cão. Servem também como um ritual de conexão entre você e seu melhor amigo. O problema, como em todas outras atitudes anteriores, é o excesso.
Cães tem a capacidade de serem egoístas e deixarem de fazer algo que já faziam se entenderem que com isso ganharão mais prêmio.
Por isso o uso caricias, elogios e brincadeiras fazem o aprendizado demorar um pouco mais. Mas são os mais indicados, pois facilitam a assimilação da nova conduta e se baseiam na cooperação, não na troca.
5 – ABRAÇÁ-LO
Deixei este por último porque também me surpreendeu.
Segundo a adestradora, quando abraçamos e ninamos nosso peludo, tiramos o espaço dele. E ele não gosta disso. Tanto é que, se você tem o hábito de abraçar, já deve ter percebido que ele contrai os músculos e fica rígido como uma estátua. São sinais de que ele gosta tanto de você que aguenta qualquer coisa. Até abraço.
Sabe-se que outros sinais como girar a cabeça, abaixar as orelhas e desviar os olhos para fora indicam incomodo e ansiedade. E o Departamento de Psicologia da Universidade de British Columbia, analisou 250 fotos de abraços a cachorros. Concluiu-se que 82% dos cães mostraram sinais de ansiedade ou mal-estar quando eram abraçados.
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Saiba mais curiosidades sobre cães aqui 😉
Autor: Dr. André Kater
Farmacêutico veterinário apaixonado por cães e gatos. Pai de cão (Thor) e gata (Zefa)