Muitos pesquisadores consideram o Papiro de Ebers, encontrado no Egito há mais de 3500 anos atrás, o primeiro registro Farmacopeico da História. Afinal, ele inicia com a frase: “Começa aqui o livro da produção dos remédios para todas as partes do corpo humano”.
Na Grécia, Theopharstus (372 – 287 a.C.) escreveu “A História das Plantas” – um resumo de todos os conhecimentos sobre as propriedades das plantas. Dioscórides (57 d.C.), cirurgião de Nero, tem destaque na história da farmácia, pois foi o primeiro a descrever cientificamente mais de 600 plantas por suas substâncias e não pelas doenças que tratavam. Esta obra foi a principal fonte de conhecimento farmacêutico até o século XVI, dando a Dioscórides o título de Pai da Matéria Médica.
Claudius Galeno (131 – 201 d.C.), grego e médico dos gladiadores, usando a obra de Dioscódes desenvolveu a polifarmácia, como tinturas de várias plantas associadas e o Cerato de Galeno (que até hoje é utilizado com pequenas modificações sob o nome Cold Cream). Galeno é considerado o Pai da Farmácia.
Não posso deixar de citar os Árabes que nos deram termos utilizados até hoje na farmácia Al Anbiq, Al Cohol e Jarab (Alambique, Álcool e Xarope respectivamente). Jabir Ibn Hayyãn (721-815 d.C.) fez a primeira destilação do álcool e Abou Ali Al Houssein (conhecido como Avicena) traduziu os livros de Galeno para o árabe e escreveu a obra “Canon da Medicina” que influenciou muito a medicina ocidental.
No Brasil o primeiro boticário foi Diogo de Castro, que chegou aqui em 1549, mas pouco se sabe sobre ele.
Por isso a história da Farmácia no Brasil está mais vinculada ao Padre José de Anchieta que chegou com a esquadra do Segundo Governador Geral Duarte da Costa em 1553. Com Padre Manuel da Nobrega, Anchieta foi para Planalto de Piratininga e fundou o Colégio dos Jesuítas (onde a cidade de São Paulo começou). Anchieta também fundou a Farmácia da Santa Casa de São Vicente, a Santa Casa do Rio de Janeiro e a botica do Colégio dos Jesuítas de Salvador. Por este e outros feitos, é considerado o Patrono da Farmácia Brasileira.
Em 1640, a Coroa Portuguesa permitiu a abertura de boticas no Brasil (antigamente os boticários vinham de Portugal). Devido à facilidade, muitas pessoas desqualificadas abriram boticas, forçando a criação de um regimento com regras rígidas de inspeção em 1744. Em 1808, com a chegada de Dom João VI, as boticas foram tomando um formato de farmácia (como são as farmácias de manipulação atualmente). Neste mesmo ano e Escola de Medicina da Bahia agregou um curso de farmácia e em 1839 foi fundada a Faculdade de Farmácia de Ouro Preto. E as farmácias viveram momentos de glória até o início do século 19.
Com a síntese da Aspirina (em 1897) e a chegada da indústria farmacêutica no Brasil (1920), as farmácias perderam a essência das boticas. Os altos investimentos em visita médica e nos cursos de medicina foram transformando os hábitos de prescrição dos médicos. As doses personalizadas foram substituídas pelas doses padronizadas; os tratamentos generalizados tomaram lugar dos tratamentos individualizados e o uso de fitoterapia e de produtos naturais já não fazia mais sentido. E a farmácia se transformou no que conhecemos hoje como drogaria.
A partir daí, os farmacêuticos formados tinham basicamente 4 áreas de atuação: drogarias, análises clinicas, indústrias farmacêuticas ou seguir com a vida acadêmica na área de pesquisa. A alquimia, o tratamento personalizado e individualizado das antigas boticas ainda era mantido nas farmácias homeopáticas. Mas a representatividade era muito pequena em relação ao crescimento vultuoso da indústria farmacêutica.
Em 1960 foi instalado o Conselho Federal de Farmácia no Brasil e iniciou-se um movimento de resgate da essência da farmácia. Este movimento foi apoiado na carência dos dermatologistas em fórmulas específicas baseadas nas necessidades individuais dos pacientes. Nascia o conceito de “Farmácias Dermatológicas”.
Até meados da década de 80, as Farmácias Magistrais (ou farmácias de manipulação) eram popularmente conhecidas na atuação dermatológica e homeopática. Em 1986, farmacêuticos atuantes neste segmento criaram a ANFARMAG (Associação Nacional de Farmácias Magistrais) com o objetivo de valorizar a instituição farmacêutica aumentando e melhorando a sustentabilidade técnica, política econômica e social.
Mas existia dificuldade na aquisição de insumos uma vez que as poucas distribuidoras que existiam atendiam a demanda das indústrias farmacêuticas brasileiras. Logo variedade de ativos era pequena e as embalagens muito grandes. Foi quando em 1987 dois farmacêuticos visionários abriram a Galena Química e Farmacêutica com o propósito de vender uma gama de ativos com embalagens que atendessem as necessidades de farmácias magistrais. Além disto, iniciaram um movimento incentivando os estudantes de farmácia a voltarem às raízes das boticas, atuando nas farmácias magistrais.
E você deve estar se perguntando: e a farmácia de manipulação veterinária?
Pois é, com o crescimento do número de animais de estimação nos lares brasileiros no início deste século, aumentou também a necessidade de cuidados com a saúde e prevenção de doenças desses pets. E. apesar da “humanização” principalmente dos cães e gatos, os tratamentos têm que ser específicos.
Por isso em 2004 foi aprovado o decreto 5053 do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) com o Regulamento de Fiscalização de Produtos de Uso Veterinário e dos Estabelecimentos que os fabriquem ou comerciem. E em 2016 no decreto 8840 fica clara a OBRIGATORIEDADE do registro no MAPA para fazer qualquer medicamento para uso veterinário (mesmo aqueles que são de humano e veterinário). Portanto, antes de fazer qualquer medicamento para seu pet, confirme se a farmácia tem registro no MAPA. Fazer medicamento veterinário em farmácia sem esse registro pode trazer consequências desastrosas para seu amigo de duas ou quatro patas (além de ser ilegal).
Quer saber as vantagens de manipular um medicamento para o seu pet? Leia o post PRECISO MEDICAR, E AGORA?
Autor: Dr. André Kater
Farmacêutico veterinário apaixonado por cães e gatos. Pai de cão (Thor) e gata (Zefa)